É através das nossas ideias que exprimimos e exercemos a nossa liberdade.

O ser humano parece condenado às leis físicas da causalidade e, por conseguinte, ao determinismo. A nossa vida é limitada por condicionantes físico-biológicas e histórico-culturais, entre fatores genéticos, hereditários e influência do meio, numa combinação harmónica que condicionam as minhas escolhas e determinam as minhas decisões. Assim, não posso voar como um pássaro ou ser jogador profissional de uma modalidade a quem se impõe uma altura para mim inacessível. Tenho, também, consciência que tal como o mundo se rege pela lei da causalidade, o ser humano não é exceção. Assim, consigo perceber que todos os meus atos têm consequências/efeitos e se olhar com atenção verifico que todas as ações são um conjunto sucessivo da ligação entre a causa que o precedeu e o efeito que se sucedeu. As premissas desta ideia, leva-nos, então, à tendência de concluir de que não existem ações livres, uma vez que tudo é causado. Mas assumir este argumento, leva-nos, também, a aceitar a desresponsabilização por parte do sujeito, a anular a importância da deliberação da ação e relação com a decisão racional. Ora, mais do que me sentir livre, penso que o sou de facto. Sou condicionado, sou determinado pela lei da causalidade, mas algumas dessas causas estão em mim, nas minhas ideias. Se sou um ser pensante, capaz de colocar questões, problematizar, refletir sobre os problemas, capaz de me distanciar e analisar, num jogo entre os sentidos e a razão, então é através das minhas ideias que sou livre. A causa está na razão, na ideia, no pensamento autónomo e não fora de mim, logo, apesar de não poder escolher o que quero (a liberdade também não supõe isso, mas sim a capacidade de escolher um caminho diferente), posso, contudo, escolher entre diversas possibilidades que me possibilitam. 
Porém, aquele que desvaloriza as ideias, que não pratica o pensamento autónomo, que se deixa levar pelo caminho mais fácil, o pensamento do outro, esse sim não é livre, está preso na sua própria ignorância. A liberdade exige trabalho, exige prática, exige romper com as trevas da ignorância ou falso saber, para a liberdade do mundo das ideias.  
Numa era tecnológica, onde o conhecimento direto, prático e proposicional está a ser substituído por um conhecimento instantâneo à distância de um clique, torna-se urgente a consciencialização da importância do pensamento, sob o risco de ficarmos alienados às causalidades externas, deixando subtilmente e quase impercetivelmente a nossa liberdade num lugar recôndito da nossa mente. O problema torna-se mais grave, porque atualmente caminhamos para uma ignorância sábia, oposto de douta ignorância, com pessoas escolarizadas e formadas alienadas ao frenesim do Mundo contemporâneo, sem tempo para pensar e se questionar, porque afinal as respostas são-nos dadas, então para quê as procurar!? Assim, o analfabetismo do saber é um risco à nossa liberdade, porque sem ideias as nossas ações são determinadas ou, pior, conduzidas por outros…

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